O JAZZ DE SASSETTI
por João Paulo Esteves da Silva e Orquestra Jazz de Matosinhos com arranjos de Filipe Melo, Daniel Bernardes, Iuri Gaspar e um arranjo inédito de Carlos Azevedo
Casa da Música, Sala Suggia. 28 Junho . 21H30
Por culpa das imagens e do cinema, a música de Bernardo Sassetti tornou-se progressivamente uma sucessão de notas que acontecia ao silêncio, por cima do silêncio, em respeito ao silêncio. As suas composições foram nascendo, uma após outra, de uma sensibilidade extrema, como se tendessem para o nada. Mas o nada é, naturalmente, um engano. Porque o nada acentua tudo: cada nota sai engrandecida, ampliada, desamparada. Como um gesto largo em que a beleza está na fragilidade e na exposição, nessa coragem de vir para a frente, desnuda e crua, e deixar-se ouvir recortada ali mesmo, ao lado de uma imensa penumbra a que chamamos silêncio.
É nesse reportório que encontramos os temas hoje interpretados a solo por João Paulo Esteves da Silva, recolhidos nos álbuns Motion, Ascent e Indigo, gravados originalmente a solo, em trio ou em trio ampliado. Mas porque a diversidade de Bernardo Sassetti está muito longe de se esgotar nesta sua via autoral, esta noite de aniversário dá-nos ainda a ouvir “Pescaria”, a sua única composição para o formato de big band, que juntará João Paulo Esteves da Silva à Orquestra Jazz de Matosinhos. Em seguida, o pianista sai de cena e a Orquestra é levada ao mundo de Sassetti pela mão dos músicos Filipe Melo, Daniel Bernardes, Iuri Gaspar e Carlos Azevedo. Porque a missão da Casa Bernardo Sassetti é a de contrariar o silêncio e propagar esta música o mais possível. Porque, na verdade, o silêncio só é verdadeiramente belo se estiver rodeado de muita gente.
fotografia: Pedro Cunha